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Os espíritas também erram - e é bom que o saibamos
O Espiritismo, na sua essência mais pura, é uma doutrina de liberdade.
Allan Kardec abriu-nos um caminho lúcido, ensinando-nos a pensar com autonomia, a questionar com respeito, a examinar tudo à luz da razão e a rejeitar qualquer ideia que não passe pelo crivo do bom senso e da moral. A base é clara: fé raciocinada, nunca fé cega.
Mas a realidade nem sempre espelha esse ideal.
Em algumas instituições espíritas, o que se vive já não está alinhado com o espírito da Doutrina. Nesses espaços, há quem confunda organização com autoritarismo, respeito com subserviência, disciplina com medo de pensar diferente.
Ora, todos nós temos defeitos. Os espíritas não são excepção.
Eu tenho defeitos (muitos mesmo - e não estou a ser falsamente modesto). Todos os que colaboram numa associação espírita têm defeitos. Somos humanos.
Mas - sem fazermos colecção de culpas, arrastando-as às costas (isso não leva a lado nenhum), e muito menos apontar dedos - temos todos a responsabilidade de fazer um esforço real para melhorar. Aliás, já no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XVII, item 4, é dito com clareza:
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar as suas más inclinações.
Esta referência, embora insida sobre os esforços e não no alcançar do objectivo propriamente dito, é ainda assim um convite claro e exigente.
Porque esse esforço verdadeiro é incompatível com manipulação emocional, com a normalização de comportamentos moralmente duvidosos, ou com o aproveitamento da fragilidade de terceiros para fins pessoais ou institucionais.
Também é profundamente contrário ao espírito da Doutrina que alguém que pense de forma diferente - ou que tenha a coragem de se afastar de algo com que já não se identifica - seja rotulado de obsidiado, de estar ao serviço das trevas, ou tratado como traidor da causa.
O Espiritismo é escola de liberdade, não trincheira de obediência cega.
Respeitar quem dirige não pode significar abdicar do espírito crítico.
Manter a paz interior não pode implicar silenciar a consciência.
Preservar a união não pode servir de desculpa para encobrir incoerências.
A Doutrina Espírita não precisa de perfectos - precisa de sinceros.
Não exige infalíveis - pede coerentes.
E não nos quer a repetir frases feitas - quer-nos a viver o Evangelho com coragem, lucidez e compaixão.
Que cada um de nós possa recordar, com humildade e firmeza, que o único modelo moral que nos foi dado, foi Jesus.
Todos os outros - por mais respeitáveis que sejam - são companheiros de jornada, com as suas virtudes e imperfeições.
E por isso, talvez o maior serviço que possamos hoje prestar ao movimento espírita, seja este:
Trazer de volta ao movimento espírita uma entrega com espírito de missão - e, sobretudo, com verdade - à prática quotidiana.
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